Literatura

O que é Literatura de Cordel? Descubra tudo: origem, características, autores, importância e curiosidades!

O que é Literatura de Cordel!O que é Literatura de Cordel!
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O Cordel é um gênero literário típico do nordeste brasileiro. Por sua longa data, possui traços do trovadorismo, mas o que predomina são os regionalismos brasileiros. É uma forma rica de se expressar, misturando várias linguagens artísticas de alcance popular, além de ser um Patrimônio Nacional! Fique conosco para descobrir todos os detalhes sobre o que é Literatura de Cordel!

Neste artigo sobre o que é Literatura de Cordel, você encontrará:

  1. O que é Literatura de Cordel e qual sua origem
  2. Principais Características 
  3. Principais cordelistas
  4. Importância e curiosidades

O que é Literatura de Cordel

A Literatura de Cordel é uma expressão literária, tradicionalmente ligada ao nordeste e à cultura popular brasileira. Os seus locais de origem e destaque são os estados de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Pará, Rio Grande do Norte e Ceará. Contudo, hoje tem se tornado presente em muitas feiras culturais do Sudeste.

Contudo, até chegar a este ponto da história, atravessou muitos séculos. Ela possui uma origem curiosa, relacionada ao Trovadorismo Medieval.

Origem da Literatura de Cordel

O ponto de partida da Literatura de Cordel se deu na Idade Média, com o Trovadorismo. Nesta época, a literatura não era algo de fácil acesso, pois não existia imprensa para facilitar a divulgação de livros e as pessoas viviam trabalhando o dia inteiro para sobreviver, não restando muito tempo para outras atividades.

Ainda sim, o lazer é um traço presente em qualquer cultura, é uma necessidade humana. Por isso, uma forma comum de entretenimento eram os trovadores: homens que trabalhavam na composição de poemas curtos e simples, com ritmos (métrica e rima), que podiam ser declamados, cantados. 

Essa forma de literatura perdurou até o Renascimento, quando surgiu o advento da imprensa. A partir daí, alguns poemas curtos eram impressos em pequenos papéis e pregados junto às cordas para exposição. Daí surgiu o nome “Cordel”, forma que os portugueses chamavam essa estratégia de divulgação.

Inicialmente, os cordéis também continham peças de teatro, como de Gil Vicente, famoso por escrever a peça medieval “O auto da Barca do Inferno”. Autos são encenações curtas, irônicas, satíricas, com humor e crítica social. Por isso, cenas eram ótimas formas de serem representadas em cordéis e atrair o gosto popular.

De volta à literatura de cordel no Brasil e ao Nordeste

O que é Literatura de Cordel

A descoberta e a colonização do Brasil, no século XVI, foi desencadeada por Portugal. Assim, os cordéis chegaram ao Nordeste, o primeiro local de instalação dos portugueses. 

Por volta do século XVIII, tomou grande repercussão nacional e foi popularizada, inserindo-se como traço cultural brasileiro; por causa dos movimentos migratórios em massa. Também é conhecida como poesia popular, pois trazia temas de folclores regionais com narrativas simples, contribuindo para que mais pessoas tivessem acesso.

É uma literatura facilmente reconhecida por conta dos seus fortes traços estilísticos: regionalismos, formato, tamanho, temas, tipo de escrita e combinação com a arte da xilogravura. Os escritores/autores tem vários apelidos: cordelistas, poetas de bancada ou poetas de gabinete.

Vamos entender melhor o que é Literatura de Cordel conhecendo as suas características. Não perca o próximo tópico!

Características da Literatura de Cordel

Listamos as marcas que caracterizam a literatura de Cordel e no próximo tópico colocamos um exemplo de cordel para você relacionar!

  • Linguagem coloquial: forte presença de oralidade e regionalismos na fala e escrita
  • Elementos da cultura brasileira, principalmente nordestina: costumes, tradições e folclores
  • Escrita em versos com métrica e rimas (conferem musicalidade aos versos, herança das trovas medievais)
  • Presença de xilogravuras (imagem à base de tinta, utilizando madeira), uma arte típica do nordeste. Veja o vídeo abaixo!
  • Uso de humor, ironia e sarcasmo para representar temas cotidianos e sociais
  • O suporte deste texto são os folhetos de cordel, que medem cerca de 12 x 16 cm, folhas dobradas e número de páginas sempre múltiplos de quatro

Exemplo de Cordel

As proezas de João Grilo

João Grilo foi um cristão 

que nasceu antes do dia, 

criou-se sem formosura, 

mas tinha sabedoria 

e morreu depois da hora 

pelas artes que fazia. 

E nasceu de sete meses, 

chorou no bucho da mãe; 

quando ela pegou um gato 

ele gritou: “não me arranhe 

não jogue neste animal 

que talvez você não ganhe”.

Na noite que João nasceu 

houve um eclipse da lua 

e detonou um vulcão 

que ainda continua, 

naquela noite correu 

um lobisomem na rua. 

Porém João Grillo criou-se 

pequeno, magro e sambudo 

as pernas tortas e finas 

a boca grande e beiçudo. 

No sítio onde morava, 

dava notícia de tudo.

[…]

Autor: João Ferreira de Lima
Editor proprietário: João Martins de Athayde

Principais cordelistas

Por se tratar de uma arte popular, existe uma infinidade de autores cordelistas, uns mais famosos outros menos. Fato é que 3 cordelistas marcaram a história nacional:

Leandro Gomes de Barros

Barros foi o primeiro brasileiro a escrever cordéis, com um acervo que conta com 240 obras campeãs em vendas. Foi muito influenciado pelos romances de cavalaria medievais (Ciclo Carolíngio, história da França) e sua principal obra do tema foi “Batalha de Oliveiros com Ferrabrás”. 

Também se destacou nos temas nordestinos, com os cordéis sobre cangaço.

A obra de Barros influenciou escritores renomados, como Ariano Suassuna, que se inspirou em seus folhetos: O enterro do cachorro A história do cavalo que defecava dinheiro. Disso, surgiu O Auto da Compadecida.

Ariano até mesmo citou o poema O mal e o sofrimento, de Leandro de Barros, como a formulação do mais grave problema da humanidade.

Veja este exemplo do grande Ariano Suassuna declamando uma poesia medieval em estilo trovador, que precede e inspira o movimento cordelista:

João Martins de Athayde

Athayde fez parte da primeira geração de escritores de cordel que possuíam sua própria editora para divulgação. Assim, quando Leandro Barros morreu, Athayde se responsabilizou por coletar as obras deixadas e divulgá-las, contribuindo para o sucesso de ambos. Também inovou ao utilizar imagens de artistas de Hollywood como participação dos seus próprios cordéis.

Patativa do Assaré

Foi uma das principais figuras nordestinas da música no século XX, além de escritor e poeta (cordelista). Cresceu uma pobre família agricultora do Ceará trabalhando desde cedo para subsistência. Era cego de um olho por causa do Sarampo que contraíra.

Aos 12 anos frequentou uma escola local para ser alfabetizado e desde então passou a compor Repentes. Aos vinte anos recebeu o pseudônimo de Patativa, pois sua poesia era tão bela quanto o canto da ave. Era convidado a cantar nas maiores festas regionais e até em rádios, onde conseguiu patrocínio para se tornar famoso nacionalmente. 

Escreveu o famoso livro “Cordéis e outros poemas”, narrando sobre as dificuldades da vida de um homem nordestino. Suas obras possuem marcantes características da oralidade e seus poemas eram feitos e guardados na memória para depois serem recitados ou escritos, mesmo após os noventa anos de idade.

Veja um fragmento deu seu cordel:

A Terra é naturá 

Esta terra é como o Só

Que nace todos os dia

Briando o grande, o menó

E tudo que a terra cria.

O só quilarêa os monte,

Tombém as água das fonte,

Com a sua luz amiga,

Potrege, no mesmo instante,

Do grandaião elefante

A pequenina formiga.

Esta terra é como a chuva,

Que vai da praia a campina,

Móia a casada, a viúva,

A véia, a moça, a menina.

Quando sangra o nevuêro,

Pra conquistá o aguacêro,

Ninguém vai fazê fuxico,

Pois a chuva tudo cobre,

Móia a tapera do pobre

E a grande casa do rico.

Esta terra é como a lua,

Este foco prateado

Que é do campo até a rua,

A lampa dos namorado;

Mas, mesmo ao véio cacundo,

Já com ar de moribundo

Sem amô, sem vaidade,

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Esta lua cô de prata

Não lhe dêxa de sê grata;

Lhe manda quilaridade.

Diferença entre Literatura de Cordel e Repente

Diferença-entre-Cordel-e-Repente

Por serem manifestações populares do nordeste, o Cordel e o Repente costumam ser muito confundidos, por vezes ditos como as mesmas coisas. Contudo, não é bem assim! São coisas diferentes com algumas características em comum.

O Repente é um tipo de manifestação que tem como base a poesia falada e improvisada. Os repentistas, seu autores, comumente declamam seus improvisos em público, acompanhados de instrumentos para enriquecer. 

O Cordel, como vimos, não é improvisado e originalmente tem como suporte os folhetins.

O que causou essa confusão foi o fato de que, nas antigas feiras nordestinas, alguns cordelistas tentavam declamar seus cordéis para divulgar sua arte. Para atrair ainda mais a atenção, podiam contar com instrumentos ou dramatizações. Mas o intuito era fazer com que comprassem o folhetim, diferindo-se do Repente.

Alguns cordelistas retratavam os repentistas em seus cordéis e xilogravuras, estreitando ainda mais a relação entre essas distintas manifestações.

https://www.youtube.com/watch?v=R8CJ8mBiZBw

Importância da Literatura de Cordel

As funções sociais que a Literatura de Cordel desempenha são muito importantes, pois:

  • Os cordéis são fonte de preservação da identidade regional e folclórica
  • São fonte de informação e oportunidade de crítica e conscientização popular
  • São forma de se expressar que atingem todas as classes sociais, são acessíveis
  • Cordéis estimulam e aumentam o hábito e o interesse pela leitura
  • Sua principal função social é de informar, ao mesmo tempo que diverte os leitores; ou seja, é um entretenimento produtivo

Curiosidades

  • A Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC) foi fundada em 1989, e está localizada na cidade do Rio de Janeiro. Ela reúne cerca de 7 mil documentos, desde pesquisas, livros e folhetos de cordel. 
  • Em 19 de novembro é comemorado o “Dia do Cordelista”, em homenagem ao nascimento de Leandro Gomes de Barros, nascido em 19 de novembro de 1865.
  • Em setembro de 2018, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional reconheceu a Literatura de Cordel como Patrimônio Cultural Imaterial Nacional.
  • A famosa novela “Cordel Encantado” possui esse nome justamente por causa da Literatura de Cordel, além de suas cenas da abertura serem imagem de xilogravura e o enredo apresentar temáticas nordestinas, como o cangaço.

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Redação Beduka
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2 Comentários

  • O poema A terra é naturá não é cordel. É o que denominamos “poesia matuta”. Chico Pedrosa e Jessier Quirino são atuais representantes desse gênero.

    • José, o poema A terra é naturá pode ser considerada como as duas. Sua origem é matuta, mas sendo veiculada em folheto há quem considere cordel. Pegamos erra referência: PATATIVA DO ASSARÉ. A terra é naturá. In: Cordéis e outros poemas. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2008.

      Mas obrigada pelo esclarecimento!