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Análise de Poemas Escolhidos de Gregório de Matos – Tudo sobre!

Capa do livro Poemas Escolhidos de Gregório de MatosResumo e Análise de Poemas Escolhidos de Gregório de Matos!
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Poemas Escolhidos de Gregório de Matos é um compilado de suas obras e ele foi o principal representante do barroco no Brasil, século XVII. A obra é dividida em três temas: lírico, satírico e religioso; para compreender a análise de Poemas Escolhidos de Gregório de Matos é preciso conhecer o contexto histórico em que se encontrava o autor!

 Neste artigo com a análise de Poemas Escolhidos de Gregório de Matos, você encontrará:

  1. Informações gerais: ficha técnica, estrutura e características
  2. Análise de Poemas Escolhidos de Gregório de Matos: tipos de poesia, exemplos e interpretação
  3. Sobre o autor e o contexto histórico
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Informações gerais

Poemas Escolhidos, bem como Angústia de Graciliano Ramos e Quincas Borba, de Machado de Assis; passaram a integrar a lista de livros obrigatórios da Fuvest, o vestibular que dá acesso aos cursos da USP, uma das universidades com os vestibulares mais difíceis do País!

Ficha técnica:

Título: Poemas escolhidos de Gregório de Matos

Autor dos poemas: Gregório de Matos

Autor da obra (realizou a compilação dos poemas): José Miguel Wisnik

Ano de publicação: 1975

Nacionalidade: Brasileiro, nascido na Bahia

Gênero Literário: Coletânea de poemas

Movimento literário: Barroco

Páginas: cerca de 360 (varia com a edição)

Estrutura da obra

O sumário da obra é composto pelo Prefácio (subdivido em 3 partes), Bibliografia (também dividida em 3 partes) e os Poemas organizados por temática.

  • Prefácio – parte I: Esboço Geográfico

Nesta primeira parte Gregório de Matos é apresentado: nasceu em Salvador (1633 ou 36), morreu em Recife (1696), foi aspirante a religioso, marido, advogado, doutor em direito canônico e secular pela Universidade de Coimbra e poeta. 

No que se refere ao seu modo de vida, foi uma personalidade muito excêntrica, intensa e até controversa: aparentemente religioso, guardava certas práticas católicas mas era  um boêmio por escolha própria, possuía moral relativa e vivia seguindo o que lhe convinha. Tentava conciliar uma vida dupla e não se envergonhava, algo comum na sua época.

  • Prefácio – parte II: Estudo Crítica

Aqui são apresentadas as características do período vivido pelo poeta e como elas influenciaram em sua escrita, como embate entre Reformadores e jesuítas (Contrarreforma) . 

Há ainda algumas explicações sobre a poesia satírica que registrou e criticou as transformações socioeconômicas vividas no política colonial, e sobre os outros dois tipos: Lírico e religiosa. Esta análise nós faremos no próximo tópico!. 

  • Prefácio – parte III

Nesta parte final do Prefácio, José Miguel Wisnik explica como foi o processo de seleção dos poemas e como a obra está organizada. 

  • Bibliografia

Esta parte também foi dividida em três partes: 

Do autor

Antologias anotadas

Sobre o autor 

Elas compreendem menções a livros para o leitor ler após terminar esta obra, caso queira aprofundar seus conhecimentos neste autor e seus textos.

  • Poemas

Os poemas foram organizados em três partes

Poesia de Circunstância (I – satírica e II – encomiástica)

Poesia Amorosa (I – lírica e II – erótico-irônica) 

Religiosa

Adiante veremos análise e exemplos de cada uma delas! 

Curiosidade

Houve um empecilho para publicar esta obra: o poeta Gregório de Matos nunca assinou com seu próprio punho ou publicou nenhum verso!

Dessa forma, sua poesia é considerada apócrifa (sem comprovação de autoria) e está registrada em livretos manuscritos onde admiradores copiavam os seus versos ou violeiros e repentistas os cantavam por aí. 

Naquela época, a produção de livros era cara e rara, não havia uma imprensa popularizada e os artistas escreviam seus versos em folhetins, ou apenas os declamavam.

Para compor essa obra, José Miguel Wisnik utilizou como referência uma edição das Obras Completas feita pela Academia Brasileira de Letras, em 1933 e outra edição de James Amado, de 1968. A primeira tentativa de catalogar a obra de Gregório teria sido feita em 1882 por Alfredo Vale Cabral, que morreu antes de concluir o trabalho.

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Análise de Poemas Escolhidos de Gregório de Matos

Análise da Poesia Satírica de Gregório de Matos

O poema satírico de Gregório é marcado por uma briga entre uma sociedade “normal” (a do homem bem nascido, culto e correto) e uma outra sociedade “absurda” (composta por pessoas oportunistas instaladas no poder).

Neste caso a “sociedade absurda” é real porque é a Bahia onde ele vive e a “sociedade normal” é absurda se comparada à realidade baiana. Assim, ambas são consideradas absurdas uma pela outra e esse impasse é reflexo do seu contexto histórico.

As críticas são expostas de maneira vulgar, rude, ácida e sem nenhum pudor. Justamente por isso, a poesia satírica é a mais conhecida de sua produção. O poeta não hesitava em reprovar a sociedade e o comportamento de pessoas importantes, citando, inclusive, nomes de políticos.

À cidade da Bahia

Triste Bahia! ó quão dessemelhante (A)

Estás e estou do nosso antigo estado! (B)

Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, (B)

Rica te vi eu já, tu a mi abundante. (A)

A ti trocou-te a máquina mercante, (A)

Que em tua larga barra tem entrado, (B)

A mim foi-me trocando, e tem trocado, (B)

Tanto negócio e tanto negociante. (A)

Oeste em dar tanto açúcar excelente (C)

Pelas drogas inúteis, que abelhuda (D)

Simples aceitas do sagaz Brichote. (E)

Oh se quisera Deus, que de repente (C)

Um dia amanheceras tão sisuda (D)

Que fora de algodão o teu capote! (E)

Como todo bom Barroco tem o resgate do formalismo estético, este soneto satírico é composto por versos decassílabos em esquema de rimas ABBA, ABBA, CDE, CDE.

No poema, há uma dramática lamentação sobre a situação da Bahia, utilizando por exemplo a palavra “dessemelhante” para expor a desigualdade econômica do lugar, causada por  “Brichote”, ou seja, “gringo, estrangeiro”.

Análise da poesia Lírica-amorosa Gregório de Matos

A poesia lírico-amorosa de Gregório de Matos é construída em torno de contradições (antíteses) e pares de opostos (paradoxos), utilizando figuras de linguagens como o oximoro, que reforça essas contradições.

Porém, deve-se ter em mente que estas contradições não se anulam, elas se completam. A mensagem final que o poeta passa é de que as diferenças compõe a identidade. É importante ressaltar que mesmo não sendo satírica, a poesia lírica pode apresentar traços críticos.

Exemplos: espírito e matéria, ascetismo e sensualismo, corpo e alma.

A figura de musas, mulheres romanceadas e idealizadas, comparadas a elementos da natureza, são bem presentes. Traz ainda sentimentos dúbios, onde o pecado e a culpa se mostram presentes. Essa visão dualista também aparece na mulher desejada, podendo ser caracterizada como um “anjo-demônio”. 

Aos afetos, e lágrimas derramadas na ausência da dama a quem queria bem

Ardor em firme Coração nascido;

pranto por belos olhos derramado;

incêndio em mares de água disfarçado;

rio de neve em fogo convertido:

tu, que em um peito abrasas escondido;

tu, que em um rosto corres desatado;

quando fogo, em cristais aprisionado;

quando cristal, em chamas derretido.

Se és fogo, como passas brandamente,

se és neve, como queimas com porfia?

Mas ai, que andou Amor em ti prudente!

Pois, para temperar a tirania,

como quis que aqui fosse a neve ardente,

permitiu parecesse a chama fria.

No caso de Aos afetos e lágrimas derramadas na ausência da dama a quem queria bem, o amor é visto como uma luta entre a dor e a paixão. O verso “rio de neve em fogo convertido” expõe um eu-lírico que transita entre os extremos do sentimento amoroso, ora gélido como a neve, ora ardente como o fogo.

Estruturalmente é um soneto composto por 14 versos decassílabos com rimas ABBA, ABBA, CDC, DCD e muitas antíteses, figura de linguagem que aproxima pares de opostos, o que é uma marca da poesia lírico-amorosa.

A primeira parte do soneto (os dois quartetos) possui um tom de lamentação, onde o eu-lírico vive um embate entre “paixão” (simbolizado através de imagens como “fogo” e incêndio”) e “dor” (simbolizado por “neve” e “água”, remetendo à “lágrimas”). 

Na segunda parte, o eu-lírico reflete sobre natureza contraditória do amor, fazendo lembrar a lírica de Camões (“Amor é fogo que arde sem se ver/É ferida que dói e não se sente”). 

Análise da poesia Lírica-erótica Gregório de Matos

Já a poesia erótica, na qual o poeta utiliza uma linguagem mais direta e explícita do que na lírico-amorosa, o amor carnal aparece como forma de libertação do corpo e do indivíduo.

Apesar de escrever sobre o amor de forma delicada, mostra também seu lado mais áspero sobre as relações humanas.

E isto é o amor?

Mandai-me Senhores, hoje

que em breves rasgos descreva

do Amor a ilustre prosápia,

e de Cupido as proezas.

Dizem que de clara escuma,

dizem que do mar nascera,

que pegam debaixo d’água

as armas que o amor carrega.

O arco talvez de pipa,

a seta talvez esteira,

despido como um maroto,

cego como uma toupeira.

E isto é o Amor? É um corno.

Isto é o Cupido? Má peça.

Aconselho que não comprem

Ainda que lhe achem venda.

O amor é finalmente

um embaraço de pernas,

uma união de barrigas,

um breve tremor de artérias

Uma confusão de bocas,

uma batalha de veias,

um reboliço de ancas,

quem diz outra coisa é besta.

Neste poema o escritor questiona o sentimento amoroso colocado de uma forma apenas romântica e com inspiração mitológica. Ele afirma que o amor é, na realidade, um acontecimento carnal, que envolve os prazeres da junção dos corpos dos amantes. Finaliza, de forma desaforada dizendo que quem não concorda com ele é estúpido.

Análise da Poesia Religiosa de Gregório de Matos

Por fim, há a poesia religiosa que também é trabalhada por meio de pares de opostos. O ambiente fortemente cristão do período barroco, faz-se presente: os pares antagônicos da vez são culpa vs. perdão e corpo vs. alma. 

Neste ponto, Gregório põe a poesia como a única forma de libertação e salvação para o poeta. Esta salvação não se dá somente entre o poeta e Deus, mas também perante a sociedade e si mesmo. 

Aqui, ele não deixa de expor seus sentimentos conflitantes, principalmente no que se refere a sua vida de dupla moral e infidelidades à fé. Também pode haver críticas a determinados comportamentos religiosos em outros poemas de Gregório.

A Jesus Cristo Nosso Senhor

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,

Da vossa alta clemência me despido;

Porque, quanto mais tenho delinquido,

Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,

A abrandar-vos sobeja um só gemido:

Que a mesma culpa, que vos há ofendido,

Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobrada

Glória tal e prazer tão repentino

Vos deu, como afirmais na sacra história,

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,

Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,

Perder na vossa ovelha a vossa glória.

Este soneto é um dos maiores representantes da poesia sacra/religiosa de Gregório de Matos. Segundo a crítica literária, foi inspirado em outros poemas já existentes em língua espanhola. Outra inspiração do poeta foi a passagem do evangelho de São Lucas, onde Jesus Cristo conta a parábola da ovelha perdida.

Estruturalmente, o soneto é composto por 14 versos decassílabos com rimas no esquema ABBA, ABBA, ABC, ABC.

Sobre o autor

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Gregório de Matos era filho de um senhor de engenho e bacharel em Direito, assim, encontrava-se em uma posição central neste cenário. Com essas condições podia pensar e analisar seu momento histórico sob diversas perspectivas e apesar de ter tido diversos cargos de poder, resolveu desligar-se de tudo.

Passou a viver à margem da sociedade como um poeta itinerante, percorrendo o recôncavo baiano e frequentando festas e rodas boêmias. Mesmo distanciado da sociedade a qual considerava hipócrita, o próprio Gregório se inseria nela porque ainda vivia à custa de favores deles. Ser poeta não sustentava todos os seus festejos.

Gregório chegou a receber o apelido de Boca do Inferno por conta de sua poesia satírica, nas quais ele maldizia todas as camadas da sociedade baiana, desde as baixas até as mais altas, incluindo religiosos, com críticas ácidas aos valores vigentes e à corrupção presente em alguns setores.

Contexto histórico em que viveu Gregório de Matos

Grande parte de sua poesia (principalmente a satírica) faz alusão a situação entre Brasil e Portugal, contexto em que havia muitas turbulências. No final do século XVII, Portugal estava em decadência e o sistema escravocrata não sustentava a economia.

Assim, Portugal impunha ao Brasil uma série de restrições comerciais a fim de conseguir vantagens, e a crise também atingiu o Brasil com seus proprietários rurais senhores de engenho.

Em contrapartida esse cenário conflituoso socialmente e economicamente, surge uma pomposa burguesia composta por imigrantes portugueses e que passaram a comandar o comércio e o financeiro do país. Por conta do monopólio gerado, agravou-se a crise e a hostilidade entre os grupos: burgueses (PT) vs. proprietário de terras (BR).

Além disso, acabara de se popularizar a Reforma Protestante e a Companhia de Jesus (os Jesuítas), duas forças religiosas opostas que refletiam de diferentes formas nos valores morais da sociedade.

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Redação Beduka
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