Cavaleiros, servos e damas em sofrimento, quem nunca assistiu a um filme assim? É exatamente o cenário dos poetas do Trovadorismo, os famosos trovadores. Eles viveram na Idade Média e nos deixaram um legado muito importante de cantigas.
As cantigas nada mais são que poesias escritas com o intuito de serem cantadas. Por isso, a apresentação delas era acompanhada de instrumentos musicais. De amigo, de amor, de escárnio ou maldizer, elas traziam como temas o sofrimento amoroso e até mesmo críticas sociais.
Mas não é só isso não, há muitos outros detalhes que você precisa conhecer para ir bem no Enem ou em qualquer outro vestibular. Então, vamos te contar quais as principais obras do Trovadorismo, as características desse movimento e muito mais.
O que foi o Trovadorismo?
Trovadorismo foi um movimento literário que ocorreu na Idade Média, entre os séculos XI e XIV. Nele, os poetas receberam o nome de trovadores e escreveram lindas poesias.
Essas, por sua vez, receberam o nome de cantigas! Elas retratavam temas como o amor inalcançável e críticas à sociedade da época. Podiam ser dos seguintes tipos:
de amor,
de amigo,
de maldizer e
de escárnio.
Vale ressaltar que esses escritos eram produzidos para serem cantados e por isso eram apresentados acompanhados de instrumentos musicais como flauta, viola, alaúde.
Além disso, é importante você saber que não era o trovador que recitava suas cantigas, mas sim o jogral ou menestrel. A diferença entre eles é que o segundo também tocava instrumentos.
O legado desse período literário foi reunido em coletâneas intituladas “Cancioneiros” e podem ser encontradas em bibliotecas de Lisboa e do Vaticano. Temos um tópico que vai te explicar detalhadamente sobre isso.
Em Portugal, todas as cantigas foram escritas em galego – português. Então, não estranhe se você tiver dificuldade de entender o que está escrito. A seguir, descubra quais são as principais obras do Trovadorismo e tudo que as envolve.
Quais são os tipos de cantigas do Trovadorismo?
Não tem como conhecer e entender as principais obras do Trovadorismo, sem saber quais são os tipos de cantigas do período. Afinal, cada uma representa uma finalidade de escrita e influencia diretamente na interpretação final.
Confira quais são os tipos de cantigas do Trovadorismo e o que é cada uma:
1 – Cantiga de amor
Como o próprio nome já diz, a cantiga de amor traz como tema principal o sofrimento amoroso. E, nesse caso, uma idealização muito semelhante ao romantismo, com o sentimento e a mulher amada sendo colocados em nível superior e inalcançável.
Ela se originou na região de Provença, na França.
2 – Cantigas de amigo
Nesse tipo de cantiga, os autores dão voz à mulher, já que na época era bem difícil encontrar produções femininas. Não porque não houvesse, mas pelo contexto social no qual a prevalência era masculina em todas as esferas.
Mas não era uma voz ligada a todos os conflitos e sim a questões que envolvem saudade, desejo, amor e lamento em relação ao amado. Por sinal, nesse caso, “amigo” é apenas um sinônimo para as palavras “namorado” e “amante”.
3 – Cantigas de escárnio e maldizer
Críticas sociais sempre tiveram um papel importante na literatura e não foi diferente em relação ao movimento trovadoresco. Mas, nesse caso, as insatisfações eram registradas por meio de cantigas.
Devido ao tom satírico e desafiador, elas receberam o nome de cantigas de escárnio e maldizer. Ao lê-las, é possível perceber a denúncia de certos costumes e comportamentos medievais.
Quais as obras mais importantes do Trovadorismo?
Não dá para falar sobre esse movimento literário sem falar sobre cantigas, até porque ele é formado basicamente por elas. Por isso, quando abordamos as principais obras do Trovadorismo, teremos o quê?
Cantigas de amigo, de amor, de escárnio e de maldizer. E o período nos deixou incontáveis, sendo que algumas são mais citadas e acabam aparecendo mais no Enem e outros vestibulares. Confira quais:
1 – Cantiga da Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós
Essa é sem dúvida uma das mais famosas e principais obras do Trovadorismo. Trata-se de uma cantiga de amor, na qual fica nítido o sofrimento representado pela pequenez de quem escreve diante de quem se ama.
No mundo non me sei parelha,
mentre me for’ como me vai,
ca ja moiro por vós – e ai!
mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mao dia me levantei,
que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, des aquelha
me foi a mí mui mal di’ai!,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d’haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d’alfaia
nunca de vós houve nen hei
valía dũa correa.
Tradução
No mundo ninguém se assemelha a mim
Enquanto a vida continuar como vai,
Porque morro por vós e – ai! –
Minha senhora alva e de pele rosadas,
Quereis que vos retrate
Quando eu vos vi sem manto.
Maldito seja o dia em que me levantei
E então não vos vi feia!
E minha senhora, desde aquele dia, ai!
Tudo me ocorreu muito mal!
E a vós, filha de Dom Paio
Moniz, parece-vos bem
Que me presenteeis com uma guarvaia,
Pois eu, minha senhora, como presente,
Nunca de vós recebera algo,
Mesmo que de ínfimo valor.
2 – Cantiga “Ai Deus, se sab’ora meu amigo” de Martin Codax
Talvez você tenha um pouco de dificuldade em entender o que está escrito. Afinal, a cantiga de amigo abaixo é uma das mais antigas representações do lirismo português. Nela, o autor dá voz à mulher e ao sofrimento feminino.
Vale destacar que, nesse caso, “amigo” quer dizer “namorado” ou “amante”. Confira abaixo.
Ai Deus, se sab’ora meu amigo
com’eu senheira estou em Vigo!
E vou namorada…
Ai Deus, se sab’ora meu amado
com’eu em Vigo senheira manho!
E vou namorada…
Com’eu senheira estou em Vigo
e nulhas gardas nom hei comigo!
E vou namorada…
Com’eu senheira em Vigo manho
e nulhas gardas migo nom trago!
E vou namorada…
E nulhas gardas nom hei comigo,
ergas meus olhos que choram migo!
E vou namorada…
E nulhas gardas migo nom trago,
ergas meus olhos que choram ambos!
E vou namorada…
3 – Cantiga “A Dom Foam quer’eu gram mal”, de João Garcia de Guilhade
Trata-se de uma cantiga de escárnio e, como tal, ela traz críticas a diversos setores sociais em forma de sátiras. Essa é uma das formas mais conhecidas das principais obras do Trovadorismo
A Dom Foam quer’eu gram mal
e quer’a sa molher gram bem;
gram sazom há que m’est’avém
e nunca i já farei al;
ca, desquand’eu sa molher vi,
se púdi, sempre a servi
e sempr’a ele busquei mal.
Quero-me já maenfestar,
e pesará muit'[a] alguém,
mais, sequer que moira por en,
dizer quer’eu do mao mal
e bem da que mui bõa for,
qual nom há no mundo melhor,
quero-[o] já maenfestar.
De parecer e de falar
e de bõas manhas haver,
ela, nõn’a pode vencer
dona no mund’, a meu cuidar;
ca ela fez Nostro Senhor
e el fez o Demo maior,
e o Demo o faz falar.
E pois ambos ataes som,
como eu tenho no coraçom,
os julg’Aquel que pod’e val.
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Os principais cancioneiros do Trovadorismo
Os cancioneiros do Trovadorismo são coletâneas de cantigas compostas por trovadores (escritores) durante o período medieval, entre os séculos XII e XV.
Há três principais cancioneiros ainda preservados e eles podem ser encontrados em bibliotecas do Vaticano e Lisboa. Vale ressaltar que os textos são em galego-português.
1 – Cancioneiro da Ajuda: é a mais antiga coletânea de poesia trovadoresca em língua galego-portuguesa e possui 310 cantigas. Pode ser encontrado na Biblioteca do Palácio da Ajuda, em Lisboa.
2 – Cancioneiro da Vaticana: é composto por 1205 composições líricas de mais de 100 trovadores, incluindo poetas provençais e galego-portugueses. Essa coletânea se encontra na Biblioteca do Vaticano.
3 – Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa: contém cerca de 1.647 poemas, escritos principalmente em galego-português. Abrange uma variedade de temas líricos, como o amor cortês, a saudade, a natureza e a crítica social.
Quais as principais características do Trovadorismo?
As cantigas foram marcadas pelo amor, a musicalidade e até mesmo o humor em forma de sátiras. Mas para entender melhor as principais obras do Trovadorismo, é preciso conhecer cada uma de suas principais características.
Confira abaixo e não deixe as questões do Enem confundir você:
1 – Amor Cortês: presença de um amor idealizado, inalcançável e cortês (gentil, amável, etc).
2 – Teocentrismo: Deus e, consequentemente a religião, como centro de todas as coisas.
3 – Cantigas líricas: prevalência de composições líricas (textos em formas poéticas).
4 – Uso da língua galego-portuguesa: produção literária em uma variante antiga do português, conhecida como galaico-português.
5 – meticulosidade formal: valorização de regras poéticas, com métrica e estrofes bem definidas.
6 – Uso de figuras de estilo: emprego frequente de metáforas, hipérboles e a antítesis.
7 – Temas amorosos: predominância de conflitos e idealizações amorosas, principalmente nas cantigas de amor e de amigo.
8 – Interesse pela natureza e pela mulher: valorização da natureza como cenário poético e exaltação da mulher amada.
9 – Concepção de amor e servidão: um escritor, poeta (trovador) com uma marcante veneração à dama, ou seja, aos pés da mulher amada.
10 – Caráter oral e musical: o nome cantigas vem justamente do fato de terem sido feitas para serem cantadas e eram acompanhadas por instrumentos musicais.
Qual o contexto histórico do Trovadorismo?
Nada melhor para entender um movimento literário do que conhecer a época no qual ele surgiu. Afinal, o cenário estimula o imaginário e nos ajuda a ver a história com os olhos do autor.
O Trovadorismo ocorreu em pleno período feudal, na Idade Média, com uma clara divisão social: clero, nobres e servos. Então, é natural pensar em extensas propriedades rurais, cavalaria e castelos.
Logo, a ideia cortês (refinamento, gentileza e galanteamento) aparece marcadamente nas cantigas trovadorescas: o cavaleiro cortejando sua dama. Clichê? Talvez, mas o período é muito semelhante aos filmes medievais que costumamos ver.
Vivia-se justamente o período das Cruzadas e da Reconquista. A primeira consistia em um exército católico com objetivo de conquistar a Terra Santa (Palestina e Jerusalém) . E a segunda na retomada cristã de territórios europeus dominados pelos muçulmanos.
Elas estão por trás da formação de Portugal. Entenda aqui.
Resumindo: a Igreja Católica era o poder social máximo na época, o que resultava também na ideia teocêntrica em todas as produções literárias (Deus como centro de tudo). Já o cenário era campestre, dividido entre quem possuía a terra (os senhores feudais) e quem era dominado por ela (os servos).
Se aprofundar no contexto histórico pode te ajudar muito na hora de assimilar sobre as principais obras do Trovadorismo. Nós temos diversos artigos que podem te ajudar nessa jornada, confira:
- O que foi a Idade Média: história, mitos e características;
- Os 16 melhores exercícios sobre feudalismo com gabarito;
- Os 13 melhores exercícios sobre Idade Média com gabarito.
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Obrigado por ter lido nosso artigo sobre as principais obras do Trovadorismo. Sucesso e bons estudos!
