Já viu algo que você não deveria ter visto e se sentiu super desconfortável? Essa é a sensação que temos ao iniciar a leitura de um livro naturalista. Os autores do movimento não poupavam detalhes para descrever ações humanas frutos de instintos e desejos.
O Cortiço, O Mulato e Germinal são algumas das obras que levaram os leitores a enxergar conflitos sociais e individuais sem filtro, de uma forma nua e crua. Tanta aspereza fez com que, até hoje, muitos considerassem o Naturalismo como uma radicalização do Realismo.
Todos esses fatores o tornam o queridinho do Enem, já que o exame costuma abordar temáticas ligadas à sociedade. E sabe qual a melhor forma de entendê-lo? Conhecer suas particularidades. Por isso, vamos te explicar detalhadamente cada uma das 6 principais características do Naturalismo.
O que foi o Naturalismo?
O Naturalismo foi um movimento literário que surgiu na França, no século XIX, e trouxe enredos com realidades descritas de uma forma que nunca tinha sido feita antes. Ele se assemelha ao Realismo em alguns aspectos, mas tem características próprias bem marcantes.
Digamos que é muito mais duro que a escola literária realista ao descrever lugares, pessoas e situações. Porém, assemelha-se a ela quanto a contraposição aos ideais do Romantismo, como idealizações e ênfase em sentimentos e emoções.
Ao serem mais diretos e sem reservas em relação ao relato de histórias que costumam acontecer na vida real, os naturalistas trouxeram aspectos de zoomorfização: dar características animais a seres humanos.
Os autores do período foram influenciados por várias correntes filosóficas e científicas, como determinismo, Darwinismo e Positivismo. Neste artigo, você vai ver como essas correntes se tornaram uma das principais características do Naturalismo e entendê-las de modo detalhado.
Mas já vou adiantando algo para você!!! Todas elas desaguam no mesmo lugar: na ideia de que os comportamentos humanos são reproduções do meio e que o meio se torna uma espécie de destino implacável.
Vale destacar que esse foi um modo que os escritores encontraram de criticar a sociedade e também de dizer que ela produz o caos do qual se queixa. Bem interessante, não?
O Naturalismo também se assemelha ao Realismo por ter uma visão objetiva da realidade, não deixando espaço para subjetividade ou duplas interpretações. Para entender mais sobre ele, é muito importante que você conheça também as demais escolas mencionadas.
Conte com os artigos abaixo para isso!
- O que foi o romantismo?;
- Conheça os 6 principais autores do romantismo;
- Os 15 melhores exercícios sobre romantismo com gabarito;
- 21 exercícios sobre naturalismo e realismo com gabarito.
Quais as principais características do Naturalismo?
Apesar de ter sido um movimento paralelo ao Realismo, o Naturalismo acabou trilhando caminhos próprios e adquirindo características um pouco diferentes. A seguir, vamos te explicar detalhadamente sobre cada uma delas.
Confira:
1 – Determinismo
Os escritores naturalistas acreditavam que o homem é fruto do meio, ou seja, que as condições sociais, biológicas e ambientais influenciavam diretamente nas escolhas dos personagens. Isso fica bastante evidente na obra O Cortiço, de Aluísio de Azevedo.
No livro, o autor atribui um protagonismo não apenas a um personagem individual, mas sim ao próprio cortiço. Desse modo, ele surge como um elemento influenciador dos comportamentos e conflitos das pessoas que habitam nele.
Logo, se é um espaço no qual há promiscuidade, haverá comportamentos promíscuos das pessoas que ali vivem. Ou seja, as ações são um reflexo das relações.
É como se o indivíduo possuísse um semi-livre arbítrio e fosse muito difícil escapar das situações nas quais está inserido. Assim, para os autores do movimento, herança genética, condições sociais, ambiente e influências culturais determinam ações, escolhas e comportamentos,de forma inconsciente.
O livro citado é um dos mais cobrados no Enem! Quer saber todos os detalhes sobre ele? Acesse:
2 – Positivismo e Darwinismo
O Positivismo é uma corrente filosófica bastante conhecida pela sua objetividade, ou seja, baseia-se no que é possível observar e mensurar. Sem abrir espaço para interpretações que possam surgir de emoções ou imaginações.
Por esse motivo, o Naturalismo encontrou nela um alicerce perfeito para seus enredos. Afinal, o objetivo do movimento era trazer histórias fiéis à realidade, com acontecimentos e pessoas que vemos na vida real.
Já o Darwinismo entra como uma das principais características do Naturalismo por causa da famosa teoria da seleção natural. Lembra do que ela trata?
Segundo Darwin, criador da teoria, os organismos com características mais favoráveis ao meio tinham mais chance de sobreviver. Isso fazia com que passassem essas “vantagens” aos seus descendentes.
Essa ideia também era levada a um contexto social, isto é, acreditava-se que as pessoas em meios mais benéficos eram mais aptas a conquistas e evoluções. Você concorda?
Independente de concordar ou não, o certo é que os escritores do naturalistas conseguiram unir perfeitamente Determinismo, Positivismo e Darwinismo em prol do que desejavam criar: histórias que muitas vezes são inevitavelmente fadadas ao fracasso, isto é, uma crítica social.
3 – Descrições detalhadas do ambientes e das pessoas
Os autores naturalistas não poupavam esforços para despertar uma sensação de realidade em seus leitores. E a melhor forma de fazer isso era dando a eles descrições detalhadas a respeito do ambiente, das pessoas e de tudo que estava ao redor.
Funciona mais ou menos assim: se alguém diz que a casa está suja, você apenas receberá a informação como algo não impactante. Mas podem te dizer a mesma coisa da seguinte forma:
“Entrei por uma velha porta dos fundos, meu tênis estava tão branco que parecia afundar na calçada de barro molhada pela chuva. A cozinha era pintada com um verde musgo e todas as laterais estavam com espécies de bolhas, resultado de goteiras, infiltrações e de um inverno rigorosamente úmido. A pia tinha uma pilha de pratos e panelas sujas. Eu não conseguia ouvir e ver mais nada além da gordura que começava a me dar ânsia de vômito. De uma das quinas da mesa, escorria um líquido marrom com cheiro de leite coalhado.”
Aposto que o cenário foi montado em sua mente como se estivesse vendo um filme ou uma novela, não foi? E qual a intenção disso? Ninguém entende uma realidade na qual não está inserido e os naturalistas queriam levar você para dentro dela.
Assim, eles usaram descrições detalhadas como uma das principais características do naturalismo para te dar o direito de ter o mesmo poder de observação que eles estavam tendo. Basicamente, conseguiam te colocar no meio das cenas.
4 – Promiscuidade
Talvez você estranhe o fato de essa ser uma das principais características do Naturalismo, mas ela realmente é uma temática presente em praticamente todas as obras desse período. Nelas, os autores descrevem de forma direta e objetiva os comportamentos promíscuos dos personagens.
Esses relatos eram fortemente marcados pela visão determinista do movimento, que sugere que os indivíduos são moldados pelo ambiente em que vivem. Um bom exemplo disso é o personagem Jerônimo, de “O Cortiço”.
Jerônimo chegou à vila como um homem ético, sério e casado com Piedade. Mas foi só se envolver com os outros moradores que passou a adotar comportamentos diferentes. Isso mostra como o meio pode modificar as pessoas, tornando-as promíscuas e impulsivas.
Essas descrições sem ressalvas e sem censuras fizeram com que os livros naturalistas fossem considerados imorais para a sociedade da época.
5 – Análise psicológica
A análise psicológica é uma das principais características do Naturalismo, com algumas peculiaridades bem marcantes. Os escritores do movimento não a utilizavam para abordar as dores, as angústias e os anseios dos personagens de modo sublime e redentor como no Romantismo.
Também não seguiram o mesmo modo de análise do Realismo. Então, como fizeram isso?
De um modo animalesco. Retratando impulsos quase primários e os expondo de forma intensa, crua, sem filtros e detalhadamente. Esse é um dos motivos que leva alguns a o considerarem uma radicalização das ideias realistas.
Temos alguns artigos exclusivos que podem te ajudar a entender melhor esses movimentos e identificar a diferença entre eles. Confira:
6 – Personagens sem idealizações e crítica social
Assim como no realismo, os naturalistas não idealizaram seus personagens. Só tem um porém! Eles ultrapassaram descrições reais e utilizaram o que chamamos de zoomorfização, ou seja, deram características de animais aos humanos.
Isso permitiu que explorassem comportamentos baseados em instintos, mostrando como os desejos podiam dominar os indivíduos, ao invés de serem controlados pela razão. Ou seja, a vontade satisfeita antes do pensamento.
Caricaturizar as pessoas em seus enredos não deixava de ser uma forma que os escritores do movimento encontraram de fazer críticas a diversos contextos sociais. Eles Desafiavam as convenções e revelavam imperfeições humanas mais profundas.
Além disso, era um modo de mostrar como ocorre a entrega gradativa do indivíduo que não tem nada a perder. Percebeu como todos os pontos se ligam e terminam no mesmo lugar? Ou seja, no determinismo!
Nesse sentido, vale citar novamente O Cortiço. Afinal, ele apresenta um ambiente com situações precárias, tanto em termos de estrutura física quanto em termos de relações sociais e condições socioeconômicas.
Assim, temos a mulher negra vista com preconceito e subjugação, o comerciante sem escrúpulos, a mulher traída e sem futuro, o homem que sucumbe ao meio, o trabalhador árduo que não chega a lugar algum…
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Os 10 principais livros do Naturalismo que você não pode deixar de conhecer
Além de O Cortiço, há outras obras que marcaram o período e que são muito relevantes para entender melhor sobre as principais características do naturalismo. Entre elas, podemos citar Germinal, de Émile Zola.
A obra nos leva a mergulhar nas mazelas de pessoas que vivem e trabalham em minas de carvão. Além dela, outras obras que você precisa conhecer são:
- “O mulato (1881), de Aluísio Azevedo
- O Ateneu (1888), de Raul Pompeia
- A carne (1888), de Júlio Ribeiro.
- O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo
- Bom-Crioulo (1895), de Adolfo Caminha
- A falência (1901), de Júlia Lopes de Almeida
Lista de autores mais importantes do Naturalismo
Tem alguns autores naturalistas que trazem em suas obras todas essas principais características do Naturalismo e você não pode chegar no Enem sem conhecer, são eles:
1 – Escritores do naturalismo brasileiro
- Júlio Ribeiro (1845-1890).
- Aluísio Azevedo (1857-1913).
- Júlia Lopes de Almeida (1862-1934).
- Raul Pompeia (1863-1895).
- Adolfo Caminha (1867-1897).
2 – Escritores do naturalismo no mundo
- Émile Zola (1840-1902), francês.
- Thomas Hardy (1840-1928), inglês.
- Eça de Queirós (1845-1900), português.
- Guy de Maupassant (1850-1893), francês.
- Fialho de Almeida (1857-1911), português.
- Arthur Schnitzler (1862-1931), austríaco.
- Gerhart Hauptmann (1862-1946), alemão.
- Stephen Crane (1871-1900), estado-unidense.
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Obrigado por ler até o fim nosso texto com as principais características do Naturalismo. Sucesso e bons estudos!
