Romanceiro da Inconfidência é a principal obra escrita por Cecília Meireles, retratando de forma lírica os acontecimentos da Inconfidência Mineira. Há a perspectiva popular, o lendário Tiradentes, o tema da escravidão e os poetas Árcades. Cada texto do romanceiro tem uma influência e uma interpretação que merecem uma análise detalhada!
Neste artigo com o resumo de Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles, você encontrará:
- Informações gerais: ficha técnica
- Sobre a autora e a obra: linguagem, temática e escolas literárias
- Resumo de Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles + Análise: contexto histórico, relação entre eles e interpretação
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Informações gerais
É importante, principalmente se você não tiver muito tempo para ler a obra completa, conhecer e se recordar dos aspectos técnicos, que podem te guiar na leitura do resumo de Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles.
Ficha técnica:
Título: Romanceiro da Inconfidência
Autora: Cecília Meireles
Ano de publicação: 1953
Nacionalidade: Brasileiro
Gênero Literário: Romanceiro de poemas
Foco Narrativo: Maior parte em primeira pessoa
Número de páginas: Varia de acordo com a edição, mas são, em média, 270.
PDF: Livro Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles
Movimento literário: Segunda fase do Modernismo
Resumo de Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles + Análise
Para você compreender o desenrolar da história, dividimos a narrativa do resumo de Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles em blocos com temáticas de análise, acompanhe:
Sobre a autora: Cecília Meireles
Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no Rio de Janeiro, em 7 de novembro de 1901. Ficou órfã na sua infância e foi educada pela avó materna. Tornou-se professora primária em 1917 e em 1919 publicou seu primeiro livro de poesias, Espectros, de tendência parnasiana.
A partir dos livros “Viagem” (1939) e “Vaga Música” (1942), Cecília alcançou a maturidade literária, inspirando-se principalmente no simbolismo. Ainda sim, seu estilo é extremamente pessoal e único, não permitindo classificar a obra da escritora em uma escola literária específica.
Em 1953 lançou Romanceiro da Inconfidência, um dos marcos da literatura social brasileira, no qual recria poeticamente a saga de Tiradentes e dos demais inconfidentes nas Minas Gerais do século XVIII. Morreu no Rio de Janeiro, em 9 de novembro de 1964.
Suas principais obras são: “Espectros” (1919), “Viagem” (1939), “Vaga música” (1942), “Mar absoluto” (1945), “Retrato natural” (1949), “Romanceiro da Inconfidência” (1953), “Metal Rosicler” (1960), “Solombra” (1963) e “Ou isto ou aquilo” (1964).
Sobre a obra: Romanceiro da Inconfidência
Inspirada por uma visita a Ouro Preto, Cecília Meireles compôs esse poema de temática social, retratando a luta pela liberdade no Brasil do século XVIII durante o episódio da Inconfidência Mineira e incorporando elementos dramáticos, épicos e líricos.
O interesse pela cidade de Ouro Preto em Minas Gerais, dá-se pelos esforços dos modernistas pela recuperação do passado nacional. Em 1951, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) dedica uma seção de seu Claro Enigma às cidades históricas mineiras e ,em 1954, Murilo Mendes (1901-1975) lança Contemplação de Ouro Preto.
Já “Romanceiro” é o termo que se usa para indicar um conjunto de romances e um romance é o gênero literário que trata de obras de caráter narrativo e poético.
Esta é considerada a obra mais conhecida de Cecília Meireles por apresentar uma linguagem mais clara e comunicativa e tratar de um assunto familiar a muitos leitores, com esse tom de engajamento social devido a temática de uma revolta.
Temática e perspectiva
A fala que abre o livro sugere a ideia de arte como instrumento de eternização da ação humana, assumindo uma postura de combate ao opor-se aos relatos da história oficial da Inconfidência Mineira.
Primeiro, vê como heróis aqueles que poderiam ser considerados criminosos; segundo, a narrativa é feita de uma perspectiva lírica e não apenas factual.
Este evento histórico é abordado de forma subjetiva, mas ainda assim, reforça-se alguns aspectos já conhecidos: inconfidentes como vítimas de perseguições políticas e indivíduos antecipadores da independência brasileira e o vilão traidor da causa.
Por fim, é importante notar que os versos vão além do tempo e do espaço apresentados. Cecília consegue fazer com que passado e presente dialoguem, tratando de assuntos bem atuais como a ambição humana, a ação de traidores e a necessidade de lutar contra ambos.
Linguagem e escrita
Nessa obra de Cecília Meireles há 85 romances além de outros poemas. Existe musicalidade nos versos (métrica), uso de símbolos e apelos sensoriais, características comuns na poesia neo-simbolista, conferindo até um ar de mistério e crença no imaterial.
Em outros poemas há o uso da redondilha maior e a menor. Esse é tipo de contagem da métrica dos versos, fazendo-os com cinco sílabas poéticas (menor) ou sete (maior). Essa contagem era muito comum nos romances medievais do Trovadorismo.
Também acaba utilizando algumas expressões do Arcadismo, movimento literário vigente na época da Inconfidência mineira. Quanto às rimas, a autora utiliza de vários tipos: ricas e pobres ou perfeitas e imperfeitas e em outros poemas, às vezes, nem há ou são irregulares.
No entanto, por ser uma autora moderna, Cecília não se prende totalmente a algum desses modelos, mas os mistura conforme o intuito e a expressão poética desejada. Observe estes exemplos de trechos abaixo e tente identificar as características citadas acima:
“Descem fantasmas dos morros,
vêm almas dos cemitérios:
todos pedem ouro e prata,
e estendem punhos severos,
mas vão sendo fabricadas
muitas algemas de ferro”
Observa que a característica da atemporalidade é bem retratada, pois a busca incansável pelo ouro (riqueza) gera cobiça, vaidade e roubos, um mal social comum em qualquer tempo.
Também há forte presença do tom evocativo, que revela a ânsia da procura de um significado para os fatos:
“Ó meio-dia confuso
ó vinte-e-um de abril sinistro,
que intrigas de ouro e de sonho
houve em tua formação?
Quem condena, julga e pune?
Quem é culpado e inocente?”
Por fim, a dualidade também é algo muito presente, o que é típico do Barroco. Essas marcas refletem as ambigüidades que caracterizam as ações do homem – herói e traidor, ódio e amor, punhal e flor, bons e maus, riqueza e miséria. Observe, na fala Inicial:
“Em baixo e em cima da terra
o ouro um dia vai secar.
Toda vez que um justo grita,
um carrasco o vem calar.
Quem sabe não presta, fica vivo,
quem é bom, mandam matar.
(Romance V)”
Atenção:
Observe que as principais características da segunda fase do Modernismo estão presentes: liberdade de expressão do autor sem a necessidade de seguir padrões, crítica social e temáticas nacionais.
Por isso é possível que a autora beba de elementos de outras escolas literárias, principalmente aquelas que surgiram como oposição do racionalismo e com o fundamento no subjetivismo, por se tratar de uma poesia lírica.
Contexto histórico – obra vs realidade
A obra foi composta em meio à segunda fase do Modernismo, conhecida como geração de 30, foi o período entre 1930 e 1945. Temos um agitado cenário político nacional com Vargas e internacional com a Segunda Guerra mundial.
Como foi visto, a autora cria uma ponte entre seu contexto histórico literal e o contexto histórico da narrativa da obra, que é Inconfidência Mineira.
Essa conexão de cenários agitados socialmente pode ser interpretada como uma forma de trazer reflexões para seu tempo com base nos acontecimento históricos já ocorridos.
O enredo da obra e divisões dos capítulos
Não é possível estabelecer uma divisão rigorosa dos textos de Cecília, pois muitas vezes a narrativa avança ou regride, há poemas transitórios feitos em momentos espontâneos e com interpolações do poeta. Contudo, é possível traçar um plano geral de temáticas:
- 1-Ambiente e Contexto (romances I-XXIII)
Em “Fala inicial”, o narrador assume a primeira pessoa para manifestar a sensação de tornar pública a revolta. Toda esta primeira parte funciona como uma reorganização lendária e folclórica da realidade histórica, com intensa participação da atmosfera de narrativas populares.
O primeiro cenário retrata o desenrolar da febre do ouro, a busca enlouquecida pelo metal, a crescente intervenção das autoridades, lutas dos colonos contra o poder, o contrabando e a presença ativa dos escravos na mineração.
Aí surge a lenda do Chico-Rei, lendário negro que se enriqueceu e comprava a liberdade de outros. Também surge Chica da Silva, a sedutora namorada de um rico minerador. Essa parte se encerra com o nascimento de Tiradentes (1746).
- 2-Articulação e fracasso (romances XXI V-XL VH)
Esses poemas retratam o começo efetivo da articulação do movimento rebelde contra a opressão lusitana. O segundo cenário retrata a vida local de Vila Rica (antiga Ouro preto): há referências à bucólica e pacífica poesia dos árcades e o impactante surgimento do espírito de rebelião.
A agitação popular se espalha, há o crescimento de ideias liberais e Tiradentes atua de fora contusa, que tem sua imagem bem poetizada. Surge o herói Tiradentes e, ao mesmo tempo, aquele que viria a ser o traidor, Joaquim Silvério dos Reis.
Por fim, encerra-se com a carta-denúncia de Joaquim Silvério e a repressão do governo central que leva à prisão dos principais envolvidos.
“Atrás de portas fechadas, à luz de velas acesas, uns sugerem, uns recusam, uns ouvem, uns aconselham. Se a derrama for lançada, há levante com certeza. Corre-se por essas ruas? Corta-se alguma cabeça? Do cimo de alguma escada, profere-se alguma arenga? Que bandeira se desdobra? Com que figura ou legenda? Coisas da maçonaria, do Paganismo ou da Igreja? A Santíssima Trindade? Um gênio a quebrar algemas?”
(Romance XXIV ou Da Bandeira da Inconfidência.)
- 3-Morte de Cláudio e Tiradentes (romances XLVIII-LXIV)
Nesta parte, há os desdobramentos da descoberta da tentativa de revolta para seus participantes. Destaca-se a relação do famoso poeta Árcade Tomás Antônio Gonzaga com Maria Joaquina, de codinomes Dirceu e Marília. Ele é exilado na África e ela sofre.
Há ainda as circunstâncias misteriosas da morte do poeta árcade Cláudio Manuel da Costa servem como motivo para a divagação e tudo se encerra com o trágico momento em que Tiradentes dá seus passos de condenado rumando à forca.
- 4-A infelicidade de Gonzaga e de Alvarenga Peixoto (romances LXV-LXXX)
Esta parte retrata o contexto em que Gonzaga viveu no exílio, seus poemas escritos, as murmurações e desconfianças e perda de sua amada Marília. Há também uma oposição amarga entre o retrato de Marília e de Juliana de Mascarenhas, esta que conquistará seu coração em Moçambique.
- 5-Conclusão e D. Maria 1 (romances LXXXI-LXXXV + “Fala aos Inconfidentes Mortos”)
Este é o encerramento do Romanceiro da Inconfidência, com alguns poemas de lamento e drama, refletindo de forma dolorosa todo o conjunto da tragédia mineira. Esta parte é curta.
D. Maria I é vista vinte anos depois, já no Brasil e sua famosa loucura é retratada, sofrendo daquilo que ela mesma havia feito aos poetas, soldados e doutores da Inconfidência e seus remorsos levaram-na à morte.
A obra termina com uma homenagem aos rebeldes chamada “Fala aos inconfidentes mortos”.
“Grosso cascalho da humana vida… Negros orgulhos, ingênua audácia, e fingimentos e covardias (e covardias!) vão dando voltas no imenso tempo,
— à água implacável do tempo imenso, rodando soltos, com sua rude miséria exposta, Parada noite, suspensa em bruma:
não, não se avistam os fundos leitos… Mas no horizonte do que é memória da eternidade, referve o embate de antigas horas, de antigos fatos, de homens antigos.
E aqui ficamos
todos contritos,
a ouvir na névoa
o desconforme,
submerso curso
dessa torrente
do purgatório…
Quais os que tombam, em crimes exaustos, quais os que sobem, purificados?”
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